sábado, 14 de outubro de 2017

De Pacheco Pereira





JOSÉ PACHECO PEREIRA
OPINIÃO
Por que é que a história é sempre surpresa


Daqui a 20 anos nada disto estará de pé, umas vezes para melhor, mas mais provavelmente para pior.
14 de Outubro de 2017, 6:55
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Coloquem-se a 20 anos de distância, por volta do início do século, um átomo no curso da história, e vejam bem se era possível imaginar alguma destas coisas:
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1. José Sócrates, antigo primeiro-ministro português, está acusado de mais de 30 crimes. Mesmo que sejam provados dez dos 30, irá passar muitos anos na cadeia. O que é que pensava a Pátria dele? Elegeu-o para primeiro-ministro duas vezes e condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

2. Ricardo Salgado, anteriormente conhecido como o “dono disto tudo”, está acusado de mais de 20 crimes. Mesmo que só sejam provados dez dos 20, irá passar muitos anos na cadeia. O que pensava a Pátria e o mundo dele? Tem um doutoramento honoris causa e várias condecorações nacionais e estrangeiras, muita gente tinha medo dele e ainda mais gente devia-lhe favores. Ele sabe disso.

3. Zeinal Bava, o gestor modelo, premiado com todos os prémios, apontado como exemplo à juventude tecnologicamente afoita, está acusado de cinco crimes. Mesmo que apenas metade seja provada, poderá passar vários anos na cadeia. O que pensava a Pátria dele? Tem um doutoramento honoris causa, e a Pátria condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial.

4. Henrique Granadeiro, considerado um dos grandes gestores portugueses e com uma longa carreira cívica e política, está acusado de oito crimes. Mesmo que apenas metade seja dada como provada, pode passar alguns anos na cadeia. O que pensava a Pátria dele? Bebia-lhe os vinhos e condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.

5. De Carlos Manuel Santos Silva, a Pátria não pensava nada, porque não sabia quem era. Surpresa! O homem ganhava milhões e era muito amigo de José Sócrates e nós não sabíamos.

6. Armando Vara não é exemplo para aqui chamado, porque a Pátria pensava dele o mesmo que pensa agora, mas não deixou entretanto de lhe atribuir a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

7. Portugal é governado por um governo de maioria de esquerda. Não interessa muito a fórmula, mas é uma variante de Frente Popular.

8. O PCP perdeu Almada.

9. Depois de Jerónimo de Sousa ter estabilizado o partido pós-Cunhal e pós-URSS, o PCP conhece pela primeira vez uma crise estrutural, de influência, votos, linguagem e organização. A crise não resulta da “geringonça”, bem pelo contrário. A “geringonça” adiou a crise.

10. O PSD tem menos votos em Lisboa do que o CDS.

11. Os dois maiores partidos, o PS e o PSD, são os mesmos. À sua frente estão (ou virão a estar) pessoas que era previsível terem esse futuro político já em 2000. Mas esta continuidade de forças e pessoas é mais surpreendente do que parece. Quer o que muda, quer o que não muda pode ser surpresa.

12. Existe pela primeira vez depois de 1974 uma direita extrema que não é uma extrema-direita. Os temas não são os mesmos, a linguagem não é a mesma, é elitista e, felizmente, não sabe ser populista. Pelo menos até agora. Recruta nos jovens educados, de boas famílias e maus costumes sociais.
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