sexta-feira, 17 de novembro de 2017


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6 h ·




Maria Elisa Ribeiro
17 de Novembro de 2016 ·



Recordo um artigo que escrevi há três anos sobre a poetisa Florbela Espanca, que pode interessar a quem o ler. É sucinto; não o aprofundei, precisamente porque tinha como intenção "dar umas luzes, apenas", sobre esta personalidade das nossas Letras.


Forbela Espanca

LITERATURA PORTUGUESA-FLORBELA ESPANCA

UM POUCO DE TUDO…
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Hoje: FLORBELA ESPANCA

Nasceu Florbela Espanca em Vila Viçosa, em 1894.
O poeta José Régio, referindo-se à grande poetisa, afirma: ”…Florbela viveu a fundo estados, quer de exaltação a si mesma quer de dispersão em tudo; na sua poesia, estes atingem vibrante expressão.”
( In “Aula Viva”-12º ano-Português B- Porto Editora, J.A da Fonseca Guerra e José A. da S.Vieira, pág.422 (1999)
Deixem-me ser imodesta…Não me é muito difícil escrever algumas palavras sobre esta grande, estranha, um pouco”misteriosa” poetisa, da Língua Portuguesa. Não é, portanto, vaidade que me faz falar assim. É amor pela sua obra, que adoro ao encontrá-la cheia, quer de vida quer de morte, tanto no aspecto linear, literal, como no aspecto subjectivo.
Ser humano, ao mesmo tempo emocional e deífico, Florbela não pode ser tratada, como merece, num artigo resumido como este… Farei os possíveis por vos dar algumas ideias, as necessárias para despertar em vós, leitores, a curiosidade indispensável para a lerem…
Era poeta seu pai também, pelo que, desde cedo encarreirou a vida dos filhos, Florbela e Apeles, no sentido do amor pelas artes Alma sensível, Florbela desde cedo lhe seguiu as pisadas, embora “quase” sem querer… Mulher de temperamento triste e angustiado, acabou por cair numa espécie de narcisismo próprio dos românticos, ao considerar que ninguém era tão infeliz nem tão incompreendido como ela. Não foi feliz no amor; por conseguinte, nem menos o foi no casamento; não teve filhos, mas consagrou a sua capacidade maternal de amar, -de corpo e alma! -ao irmão Apeles, no qual via o filho que não teve. No nosso meio pequeno-burguês houve quem quisesse atribuir a este amor pelo irmão outras feias conotações. Li muito a este respeito, até porque adoro a sua obra. NÃO ENCONTREI NADA DE MENOS PRÓPRIO, NO AMOR DE UMA IRMÃ PELO SEU IRMÃO.
A grande verdade está em que Florbela nunca se sujeitou a ninguém…foi um espírito livre e angustiado, que fracassou em três casamentos. Mulher demasiado moderna para os tempos em que viveu, o seu sentido de visão da vida com liberdade, não era bem aceite pelas mentalidades tacanhas e farisaicas dos princípios do séc.XX: ela sobressaía da mediocridade “empalada” entre as paredes da vitoriana Évora… Espírito livre, fumava, vestia calças, tinha carta de condução…Horror dos horrores, no meio do farisaísmo próprio daquela época! Os leitores sabem, como eu, que ainda hoje, em certos locais do nosso país, as pessoas diferentes são olhadas, também, de modo diferente…
A morte do irmão fê-la entrar em depressão e” precipitou” a sua dor de viver e ela que nasceu no dia de Nossa Senhora da Conceição e que ensinou no Colégio de Évora com o mesmo nome, veio a falecer no mesmo dia, com 36 anos de idade! Não sendo vasta, a sua obra é sentida e significativa. Cantou o Amor: amor pela vida, pela Natureza, pelas
coisas simples da vida…Ao Amor liga-se a ideia da dor dos desejos nunca alcançados e, aí está a mistura explosiva da obra da poetisa:”Eu quero amar, amar perdidamente! / Amar só por amar: aqui…além…/Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…/Amar! Amar! E não amar ninguém!”
Discípula de Antero de Quental, na medida em que, pelo estilo,”atirava ao vento” o drama íntimo da falta de Amor, diz ela sem ligar às convenções morais burguesas, tantas vezes falsas, vitorianas e hipócritas: “O amor de um homem? Terra tão pisada, / Gota de chuva ao vento baloiçada…Um homem? - Quando eu sonho o amor dum Deus!” (pág.423, do livro já citado). E, para além deste tipo de Amor, outro dominava a vida de F.E: perdia-se, ela, pelo Alentejo, região “entidade mítica” a sofrer o desprezo dos deuses da chuva, que dela se esqueciam, no momento da sua distribuição equitativa. Vai daí: “Horas mortas…Curvada aos pés do Monte/A planície é um brasido…e, torturadas, / As árvores…gritam a Deus a bênção duma fonte! /…Árvores! Não choreis! Olhai e vede: -Também ando a gritar, morta de sede, / Pedindo a Deus a minha gota de água!”
Mas, para dizer tudo isto, a poetisa sabe que são precisas Palavras…Não há poeta que o não saiba…Palavras que falem, sentidas, cheias de “mistério” na mensagem que o leitor deve descodificar! Não é poeta quem quer…E então, diz Florbela: “Ser poeta é ser mais alto…é ser maior…/É ser mendigo e dar…É ter fome e sede de Infinito!”
Não há na obra de F.E. muitas palavras de optimismo e /ou alegria de viver; ficamos sempre com a sensação de que, narcisicamente, ela se “decide” a não ser feliz…Encontramos, nessa obra, um lote significativo de palavras de conotação triste, como:”ciprestes”, “poentes de agonia”,”brasido”, “mar de mágoa”, “só”, “ crepúsculo”, “noite”…Pode dizer-se que ela procurou a felicidade no desespero insaciável da vivência e que isso a conduziu ao pessimismo do existencialismo absurdo, de depois da IIª Grande Guerra.
Não é seguro afirmar que ela se suicidou, segundo vários estudiosos. Isso é um mistério entre ela e Deus, que tanto procurou: ”Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza…/Queria encontrar Deus! Tanto O procuro!”
Chegamos a esta conclusão: em Florbela Espanca, quando acaba o sonho da vivência que não teve, começa a dor do que tem…E tem solidão, amargura, angústia! NARCISISMO? Ah! Mas com certeza!

Maria Elisa Rodrigues Ribeiro

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